[GLOSSÁRIO] R de Religiosidade
RELIGIOSIDADE
por Juliana Martins Fonseca*
Harmonia Rosales, The creation of God. (Fonte: laparola.com.br)
Estamos perdidas, perdidos, perdides, sozinhas, sozinhos e sozinhes. O ser humano possui uma persistente necessidade de estabelecer o sentido da vida e ter respostas assertivas acerca das incertezas da nossa mente e do mundo da vida. Contudo, essa tarefa não é fácil e gera um mal-estar sobre o nosso futuro. Diante disso, às vezes, criamos atalhos para acabar com o sentimento de insignificância frente a grandeza do Universo.
Um dos atalhos possíveis é a religião. Ela é definida como um conjunto de crenças e visões de mundo que relacionam os seres humanos com um Deus e estabelece valores morais e de conduta para uma vida em sociedade coesa e pacífica.
A religiosidade é a forma que a religião acontece, ou nos acontece. Vale lembrar que o conceito de religiosidade, e também o de religião, como descritos acima, são usados apenas pelas bandas de cá, do Ocidente. As práticas espirituais no Oriente consideram a ordem cósmica do mundo e/ou a lei divina e eterna e, são balizadas no respeito e na comunhão com a natureza e na busca crítica pelo autoconhecimento.
A religiosidade envolve a prática de ritos e rituais, o reconto de histórias da origem dos seres humanos e do Universo, a reverencia a símbolos e manifestações do sagrado, os credos sobre a vida após a morte e a existência de algo superior aos seres humanos.
O ser humano se relaciona com um ou mais seres transcendentes por meio dos sentimentos e sentidos nas práticas religiosas. Além disso, a religiosidade pode ser uma fonte de força, quando é possível obter o sentido da nossa existência; ou de fraqueza, quando promove a alienação ou uma existência superficial.
Chico Buarque de Holanda aponta que para o brasileiro o sentimento religioso é mais humano e singelo quando comparado com as celebrações e devoções rígidas e pomposas das populações de outras partes do mundo. Normalmente, encontramos nas casas brasileiras, e principalmente nas casas de Minas Gerais, um altar ou cantinho para orações, uma cumeeira, oferendas em alguidares, velas acesas, ou uma bíblia aberta.
Esses são pequenos símbolos que indicam que o divino não aparece como ente privilegiado e eximido de qualquer sentimento no Brasil, visto que, ele é considerado um amigo familiar, doméstico e próximo.
O sagrado da minha casa.
Ao colocar o sagrado dentro do nosso lar, ele fica mais próximo da nossa primeira casa, ou seja, do corpo. As dúvidas, as incertezas, as angústias, os medos, as alegrias e as conquistas são partilhados com um ser transcendental que está logo ali, próximo aos meus olhos e toques. Logo, é possível comungar com um pedacim do sagrado no cotidiano.
Observe a sua volta e você! Até mesmo os nossos falares podem revelar que buscamos constantemente sermos tocados pelo sobrenatural. Ao entrar dentro do mar ou cachoeira é comum pedirmos a permissão ou a benção das deusas das águas. Outras práticas comuns são os banhos de ervas e sal grosso, os óleos ungidos, o uso de incensos e defumadores, de guias, brajás e cristais. Por isso, mesmo sem definir claramente qual é a sua religião ou seus Deuses, você de alguma forma pratica um ritual para o sobrenatural no seu cotidiano.
Quais são as suas experienciais espaciais e sensoriais com o sagrado? Qual é ou onde está o fundo de si mesmo; a fonte do seu ser, o centro de tudo, a presença que tudo preenche? Ao refletir sobre as respostas dessas perguntas você irá compreender a sua religiosidade.
Notas
* Juliana Martins Fonseca, 32 anos, ariana, Mestre em Geografia, Geógrafa, professora de Geografia e estudante de Pedagogia. Trabalha e estuda principalmente as linhas temáticas da geografia agrária; geografia cultural; geografia humanista; ensino de Geografia e planejamento e avaliação educacional.
REFERÊNCIAS
HOLANDA, Chico Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª Edição. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
INSTITUTO ANTROPOS. Fenomenologia da religião. Disponível em: <https://instituto.antropos.com.br/site/fenomenologia-da-religiao-2/>. Acesso em: 10 jan. 2020.
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