[TRAVESSIA] Um caminhante e um poeta - Testamento

 TESTAMENTO

A sorte é que a morte um dia encontrará meu corpo.
Quero estar cheio de vida para quando me deparar com ela
viver a intensidade imensurável de cada instante.
Os sons do ar misturam flutuantes e se perdem na estrada
incoerente em que construí minha vida.
A degustação insossa não comove minha alma.
Os paralelepípedos se estendem pelo chão
marcando divisas com a terra vermelha.
Nesse terreno inclinado, ladeira a baixo posso cair.
Imbricar-me no mato dentro.
Quando morrer serei adubo fresco imergindo na terra molhada.
As estrelas de anteontem destilavam alegria e dor.
O rio que corta a serra encaixa-se entre dois paredões maciços
enquanto as desordens da minha pele vão se desfazendo sem nenhum esforço.
Nesse caminho aberto por deus sabe lá quem,
encontro a vida que me restava para assumir minha condição mortal.
Aceito as perdas,
Aceito o fim.
Um dia estarei distante, além desse meu mundo.
Um dia meu mundo não irá mais existir.
Resistirá os sonhos, segredos e mistérios,
dessa minha topografia corporal?
Peço que quando a morte atacar minhas entranhas,
e eu me unir a ela como um velho companheiro,
enterrem-me.
Um substrato argiloso terei como eterna morada.







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