[TRAVESSIA] Um caminhante e um poeta - Milagres
MILAGRES
Tenho frio.
E o desejo de retorno me consome.
Mas apuro as papilas de minha boca,
e sinto cortar na língua
o doce sabor do café e do cravo
cozidos no fogo que envolvia a lenha,
transformando-a em brasa.
Meu corpo inteiro se curva
e adentra nesse contorcer adocicado,
costurando caminhos de retorno ao mais
primitivo instante de criação daquele líquido.
Os pés de café. Da força da terra brota o grão-semente
que gera vida para a eternidade.
Retornava ao orgânico de minha vida,
ao barro, ao pó.
Esse desejo de imbricar-me nas veias expostas do chão e me enterrar.
Engoli o lugar Tabuleiro
degustando o sabor doce das terras de sua Serra.
No fogão a lenha, o conforto da chama que invade o bule,
e funde a água com o pó de café moído com cravo.
Criação das mãos poetas de seu Zé.
Meu corpo se conforta.
Pois retornei ao mais profundo repouso de minha alma.
A Terra-Tabuleiro.
Desejo de meu corpo.
Acalento orgânico para a o sem fim.
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