[TRAVESSIA] Um caminhante e um poeta - Princípio

PRINCÍPIO 

Nas águas claras de uma quarta feira de outono,
o sol forte, meu corpo invadido por um calor intensificado pela subida.
Estava quente, e a estrada nem sempre continha em sua volta arvores grandes para sombrear o caminho.
paramos em frente a um riacho. rolava sereno, da cabeceira até desaguar no Riachinho.
Entrei, e largando para trás meu cantil, com água urbana metalizada, enchi uma boa caneca numa bica que se formava entre as rochas, e bebi.
Era gelada, fresca. Não havia calor. Havia liberdade.
A água também corria por meu corpo e enquanto descia, contava histórias da profundidade daquela serra.
Do telúrico e do substancial.
No Espinhaço, a água é a potencia que desperta a imaginação. Recobra pra si todos os sonhos daquela terra.
Cobre toda a extensão, e habita grandes drenagens que alimentam toda a gerais. A água atravessa meu corpo.
A água compreende o verdadeiro sentido de atravessar. Transita, da nascente a foz, para desaguar e continuar a correr até onde o rio a leva, para depois balançar-se no movimento ondulatório dos oceanos (ou será que dentro do mar não tem rio?).
Elemento que me conduz à metamorfose.
Imaginação. Criação. Transformação. Milagres.
Do corpo recluso, fechado, mudo...
Ao corpo travessia, aberto, disposto, expansivo.
Só atravessa quem se permite ao encontro, que arrisca.
Um corpo-travessia desafia as limitações da efemeridade superficial, e se coloca aberto para o entre, para o que estar por vir, para a descoberta e a criação.
É um corpo em construção!
Confio no caminho, a na potencia das águas que correm para alimentar minha vida.
No sabor da água, degusto o lugar-travessia.

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